sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Coisas de Manoel de Barros

Coisas de Manoel, para Manoel, para mim ou para você.

"Mas a gente não é apenas aspecto. Não somos uma coisa com ninguém dentro. Nossa essência precisa de ser exercida. E a gente exerce a essência  como quando cria a solidão, como quando abre o amor. Se através da linguagem de nossa poesia a gente conseguir se expor, o mundo se refletirá (...)."

"Somos  diferentes. Eu mexo com palavras. O outro é fazendeiro de gado. Enquanto o cidadão mantém a casa em ordem, o poeta cultiva irresponsabilidades. Eu sou rascunho de um sonho. Ele é pessoa da terra. Eu tenho um entardecer de angústias. E o outro vai pro bar se esquecer. Recebo no meu olho beijamento de águas. Me sinto um ralo de sabedoria. E o outro zomba de mim."

"De re pente uma palavra me reconhece, me chama, me oferece. Eu babo nela. Me alimento. Começo a sentir que todos aqueles apontamentos têm a ver comigo."

"Sou puxado por ventos e palavras."

"Uma folha me planeja."

 "Nas profundezas da matéria desenham-se sorrisos imprecisos, germinam conflitos, engrossam formas apenas esboçadas. Toda matéria ondula de possibilidades infinitas, que a perpassam com arrepios insípidos. Esperando pelo sopro vivificante do espírito, ela transborda de si sem parar."

"Não tenho certeza mesmo quase nunca do que faço. Porque o faço com o corpo. E a sensibilidade é traideira. Às vezes tapa a visão. Eu sou demais coalescente às coisas. Não dá para tomar distância de julgador. Os versos vêm de escuros. Eu só tenho meus versos e a incerteza."

"Poeta não tem compromisso com a verdade, senão que talvez com a verossimilhança."

Encontros: Manoel de Barros.
Organização de Adalberto Müller
Apresentação de Egberto Gismonti

Editora Beco do Azougue.
Rio de Janeiro

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